COP
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Por Amanda Magnani, de Dubai, para o Um Só Planeta

Nos últimos anos, a juventude mundial vem desempenhando um papel cada vez maior nas lutas por justiça climática. Nomes como o da ativista sueca Greta Thunberg, fundadora do movimento Fridays for Future, vêm ganhando cada dia mais destaque. Líderes mundiais estão começando a entender o que as novas gerações já sabem e vêm tentando comunicar: que não se pode discutir as soluções para a crise climática sem ouvir as vozes da juventude.

Os jovens vieram para mostrar que não são só o nosso futuro, mas o nosso presente. Por isso, hoje (08/12) é o Dia da Juventude na COP 28, em Dubai. E o Brasil veio para representar! Conheça alguns dos brasileiros que estão no evento e as lutas que estão trazendo.

Daniela Silva, 30 anos, do Pará, representando a juventude negra da Amazônia. — Foto: Amanda Magnani
Daniela Silva, 30 anos, do Pará, representando a juventude negra da Amazônia. — Foto: Amanda Magnani

Daniela Silva, 30 anos, do Pará, representando a juventude negra da Amazônia.

“Eu comecei na luta ambiental quando tinha 13 anos, por falta de opção. Na época, estávamos ameaçados pela construção da hidrelétrica de Belo Monte. Participei da Pastoral da Juventude por algum tempo e depois passei dez anos no Movimento Xingu Vivo Para Sempre, trabalhando com mulheres, ribeirinhos, indígenas e como a população da cidade de Altamira, tanto em estratégias de enfrentamento a Belo Monte, quanto de acesso aos direitos humanos e ambientais. Depois disso, fundei a ONG Aldeias, que atua com crianças e adolescentes direta ou indiretamente impactados pela hidrelétrica. Nós trazemos uma perspectiva criativa e alegre, porque a gente entende que esse tema é um tema muito duro, mas que é preciso criar espaços felizes para seguir com a nossa luta. Eu venho representando a luta das juventudes da Amazônia, sobretudo a juventude negra urbana, porque 70% da população amazônica vive na área urbana, e em sua maioria porque foram expropriados ou expulsos da floresta por projetos como Belo Monte.”

Açucena Tumbalalá, 19 anos, da Bahia, representando os povos indígenas da Bahia e do Nordeste. — Foto: Amanda Magnani
Açucena Tumbalalá, 19 anos, da Bahia, representando os povos indígenas da Bahia e do Nordeste. — Foto: Amanda Magnani

Açucena Tumbalalá, 19 anos, da Bahia, representando os povos indígenas da Bahia e do Nordeste.

“Eu estudo direito na Universidade Estadual de Feira de Santana e faço parte de organizações locais, como a Comissão de Jovens Indígenas Tumbalalá e o Anjuká, que é o Centro de Memória dos Povos Indígenas do Nordeste. O sertão, especialmente o bioma de onde eu venho, que é a Caatinga, normalmente não tem muitos recursos para chegar a espaços como esses. Mesmo a Caatinga sendo um bioma único, ele acaba muito excluído do debate. Como eu cresci no território, venho desde criança nessa luta que é climática, é pelo ser humano e também é espiritual, porque os nossos costumes estão muito relacionados à Caatinga e ao Rio São Francisco. Nosso processo também envolve a luta pela demarcação, porque não se pode falar de justiça climática sem demarcar os territórios indígenas. Hoje aqui na COP 28 eu me sinto na função de ouvir e aprender, mas também de trazer as vozes e as demandas do meu povo e do meu bioma.”

Raylson Santos, 20 anos, da Paraíba, representando as comunidades rurais agrícolas. — Foto: Amanda Magnani
Raylson Santos, 20 anos, da Paraíba, representando as comunidades rurais agrícolas. — Foto: Amanda Magnani

Raylson Santos, 20 anos, da Paraíba, representando as comunidades rurais agrícolas.

“Eu nasci e cresci em uma comunidade rural. Hoje estudo jornalismo e sou o primeiro da minha família a entrar na universidade. Eu nunca me declarei um ativista climático: acho que sou só uma pessoa preocupada com o meio ambiente. Eu faço parte da Articulação da Juventude Camponesa, um projeto que trabalha com agroecologia e sustentabilidade. Foi por ser parte da coordenação desse projeto que eu vim para a COP. Eu acho que eu represento principalmente a minha comunidade, que é um lugar de agricultores. Todos da minha família e da minha comunidade são agricultores. Então eu venho representando as demandas deles e de pessoas que partem de um lugar parecido com esse meu: pessoas que moram em comunidades rurais e que, muitas vezes, não entendem muito bem esse debate sobre o combate às mudanças climáticas, que é algo muito técnico e de difícil compreensão. Então eu venho aqui me apropriar desse conhecimento para levar de volta para a minha comunidade.”

Raquel Wapichana, 22 anos, de Roraima, representando a juventude indígena. — Foto: Amanda Magnani
Raquel Wapichana, 22 anos, de Roraima, representando a juventude indígena. — Foto: Amanda Magnani

Raquel Wapichana, 22 anos, de Roraima, representando a juventude indígena.

“Eu sou a coordenadora estadual da juventude indígena, que é um cargo que exerço dentro do Conselho Indígena de Roraima. Minha luta como ativista surge dentro da comunidade, porque nós indígenas somos instruídos a isso desde criança, ouvindo as histórias de como nossos pais e avós lutaram pela nossa terra. E eu acredito que temos um papel de fortalecer essa luta e dar continuidade a essa caminhada. Especialmente porque, ao proteger os nossos territórios, que para nós são sagrados, nós estamos ajudando no combate às mudanças climáticas. Enquanto coordenadora da juventude, trabalho com os jovens sobre a sustentabilidade dentro dos territórios, especialmente através da produção orgânica. A nossa juventude tem se fortalecido politicamente. Aqui na COP, eu tenho buscado representar o meu povo, os meus jovens, e aprender nos espaços internacionais de troca que temos de jovens indígenas para jovens indígenas.”

Jaiane Bruna, 22 anos, de Alagoas, representando a juventude negra das periferias. — Foto: Amanda Magnani
Jaiane Bruna, 22 anos, de Alagoas, representando a juventude negra das periferias. — Foto: Amanda Magnani

Jaiane Bruna, 22 anos, de Alagoas, representando a juventude negra das periferias.

“Eu faço parte do Engajamundo, que é uma organização de jovens ativistas climáticos do Brasil e sou criadora de conteúdo no coletivo Lentes Pretas. Sou vestibulanda, sou da periferia, e estou inserida nesse espaço de ativismo principalmente focada no meu território, tentando trazer essas pautas ambientais e climáticas, traduzindo os conceitos de uma forma mais acessível. Eu tento usar a comunicação a nosso favor, explicando as coisas de um jeito que ajude a população negra a se identificar e entender que essa pauta é importante para a gente. Como mulher, preta e bissexual, são muitas as pautas que entrecortam a minha vivência, então eu foco principalmente na luta por justiça climática. Aqui na COP, vim incidir nesses espaços de troca de saberes com pessoas que são iguais a mim, para entender sobre como atuar no meu território e para colocar a união no mapa global do ativismo climático.”

Karina Penha, 27 anos, do Maranhão, representando — Foto: Amanda Magnani
Karina Penha, 27 anos, do Maranhão, representando — Foto: Amanda Magnani

Karina Penha, 27 anos, do Maranhão, representando

“Eu tive a honra de ajudar a construir o movimento climático brasileiro. Junto com outros jovens, eu puxei a primeira greve pelo clima no Brasil. Meus pais e avós pertencem a duas comunidades tradicionais: pescadores e quebradeiros de coco babaçu. Então, o ambientalismo chega até mim através deles. Eu sou bióloga de formação, a primeira pessoa da minha família a entrar na universidade, mas o ambientalismo chegou para mim especialmente observando a minha comunidade e entendendo os problemas que a gente tinha. Eu sentia o incômodo de ver tudo que estava acontecendo e queria entender o que eu poderia fazer para mudar essa situação. A partir disso, também fui me entendendo nesse lugar de ativismo enquanto mulher negra e enquanto parte da Amazônia legal e lutando por uma Amazônia que é quilombola, indígena, periférica, uma Amazônia habitada por pessoas e comunidades que podem falar por si próprias, e que já estão construindo soluções climáticas. Na COP, nossa luta é para que as negociações não aconteçam sem a nossa participação.

Thuane Nascimento, vulgo Thux, de 26 anos, do Rio de Janeiro, representando — Foto: Amanda Magnani
Thuane Nascimento, vulgo Thux, de 26 anos, do Rio de Janeiro, representando — Foto: Amanda Magnani

Thuane Nascimento, vulgo Thux, de 26 anos, do Rio de Janeiro, representando

“Eu sou formada em Direito pela UFRJ, sou a diretora executiva do Perifa Connection e sou moradora da Vila Operária. Eu trabalho com as pautas que circundam o meio ambiente e o debate do clima há um tempo, principalmente com a questão da soberania alimentar. Para quem é jovem, é de periferia, precisamos fazer as pessoas acreditarem na importância da gente estar aqui. Não queremos uma agenda temática sem diálogo com os territórios periféricos, porque não existe justiça climática com racismo. É preciso o antirracismo para se pensar uma perspectiva de mudança da realidade que vivemos hoje, em que as mudanças climáticas são pioradas por um sistema que prioriza o lucro em detrimento da vida. E isso vale tanto para a vida territorial, quanto para a vida do ser humano. Então, a nossa luta por visibilidade, para poder pensar um novo mundo e um novo Brasil, a partir do território.”

Anne Heloise, 26 anos, do Rio de Janeiro, representando as mulheres negras. — Foto: Amanda Magnani
Anne Heloise, 26 anos, do Rio de Janeiro, representando as mulheres negras. — Foto: Amanda Magnani

Anne Heloise, 26 anos, do Rio de Janeiro, representando as mulheres negras.

“Eu sou assessora de Justiça Climática do Instituto Marielle Franco. Hoje trabalho com o eixo de justiça climática, mobilizando parlamentares, revisando projetos de lei e também com os projetos do instituto como a Escola Marielle de formação em clima para parlamentares e assessores. Comecei meu ativismo no Engajamundo, mas eu trabalhava com gênero, justamente porque eu não me via na pauta do clima, já que esse ambientalismo branco não é acessível para as periferias. A luta das mulheres sempre veio pra mim de forma mais intensa, principalmente a das mulheres negras. Eu represento a luta das mulheres negras e a luta pelos direitos humanos e inclusão social. A pauta climática hoje não é tão elitizada quanto era em 2018, quando comecei a atuar, mas ainda tem um longo caminho para se democratizar e realmente chegar nas periferias. As pessoas mais afetadas precisam não só estar cientes da crise climática, mas precisam se sentir instadas a se engajar. Nós precisamos de mais velocidade nas soluções, e a gente só vai conseguir essa velocidade com pressão social.”

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