Por Roberto Peixoto, g1


Foto aérea mostra uma área desmatada durante uma operação de combate ao desmatamento perto de Uruara, no Pará, em 21 de janeiro de 2023. — Foto: Reuters

A área desmatada na Amazônia foi de 9.001 km² entre agosto de 2022 e julho de 2023 (o equivalente ao tamanho da República de Chipre, no Mediterrâneo), de acordo com números oficiais do governo federal divulgados nesta quinta-feira (9) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Quando comparado ao último levantamento do Inpe, houve uma queda de 22,3% do total da área desmatada entre as duas temporadas. Na edição anterior, esse número foi de 11.594 km², entre agosto de 2021 e julho de 2022.

Os números são do relatório anual do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), considerado o mais preciso para medir as taxas anuais. Ele é diferente do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que mostra os alertas mensais – e que já sinalizava quedas na devastação nos últimos meses.

Com essa redução de 2.593 km², a taxa divulgada este ano é a menor para uma temporada do Prodes desde 2019.

"Esse resultado é fruto do trabalho de todos nós", afirmou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.

"É um trabalho que já tínhamos um know-how da nossa gestão aneterior. Agora atualizamos e estamos vendo esses resultados", acrescentou.

Nos últimos 20 anos, o índice do Prodes atingiu sua marca mais alta em 2004, quando 27,7 mil km² foram desmatados (veja gráfico abaixo).

Porém, depois disso, quando levado em consideração o período seguinte, houve uma queda constante nesses números. E assim a temporada com menor desmatamento na Amazônia em toda a série histórica do Prodes foi em 2012, com 4,5 mil km².

Mas a situação se inverteu novamente em 2015, e a área desmatada aumentou, chegando a 10.129 km², em 2019; 10.851 km², em 2020; e 13 mil km², em 2021.

O número só voltou a cair no último ano da gestão de Jair Bolsonaro (PL), atingindo a marca de 11.594 km². Bolsonaro, porém, assumiu o governo com uma taxa inicial de desmatamento em torno de 7.500 km², a qual não apresentou reduções quando comparada com o índice do começo do seu mandato.

Agora no primeiro ano do terceiro governo de Lula (PT), que enfrenta desafios herdados da gestão anterior marcada por recordes negativos na área ambiental, como o aumento do desmatamento, emissões recordes de gases estufa, invasão de terras indígenas e a paralisação do Fundo Amazônia, observa-se uma nova redução no desmatamento no bioma, já indicadas nas estatísticas do Deter, a partir de janeiro de 2023.

"É uma boa notícia, mas a gente tem que continuar perseguindo sistematicamente essa redução do desmatamento", diz Mariana Napolitano - diretora de Estratégia do WWF-Brasil.

Durante o governo anterior, de agosto a dezembro de 2022, houve um aumento de 54%, seguido por uma queda de 42% de janeiro a julho de 2023, no início do governo atual.

"O discurso do presidente, de proteção à floresta, se traduziu em número e virou entrega concreta. É um resultado expressivo e que sela a volta do Brasil à agenda de clima", comemora Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.

No entanto, ele destaca a importância de o governo modificar sua abordagem legislativa, alertando que não adianta combater o "crime no chão da floresta" enquanto a gestão Lula fortalece suas bases no "carpete legislativo". Astrini critica essa abordagem ao destacar o risco desssa atual celebração ser manchada por derrotas nas legislações socioambientais.

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Fumaça na Amazônia

Apesar da queda na taxa oficial, há meses o bioma amazônico sofre com os efeitos do desmatamento ilegal e da seca histórica que atinge a região. Por causa disso, desde setembro o Amazonas está em estado de emergência ambiental.

Segundo o Inpe, em outubro, o estado registrou 3,9 mil focos de queimadas durante todo o mês, a pior taxa dos últimos 25 anos.

Geralmente, setembro é o mês em que a seca é mais sentida na Bacia Amazônica. No entanto, neste ano, a situação está atípica, de acordo com os meteorologistas.

Isso porque, como mostrou o g1, essa secura fora do normal tem relação com o El Niño (que é o aquecimento do oceano Pacífico) e a distribuição de calor do oceano Atlântico Norte.

Em entrevista ao podcast "O Assunto", a diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, resumiu: "O clima está muito favorável à expansão dos incêndios florestais. Existe uma relação entre o desmatamento e o fogo na Amazônia [...] Mas a gente tá vendo esses incêndios se alastrando e isso acontece por conta da seca".

A especialista destacou ainda que as queimadas tornaram-se mais frequentes devido ao desmatamento passado e à extração seletiva de madeira, e ainda advertiu sobre a possibilidade de uma situação mais catastrófica se as condições climáticas deste ano coincidirem com o aumento do desmatamento.

"Vale dizer que, além do desmatamento, outro fenômeno importante na Amazônia é a degradação da floresta, em que você ainda tem a cobertura vegetal, mas aquela floresta é uma floresta já mais modificada. Essa floresta é mais suscetível a queimado. Então, essa alta taxa de degradação na Amazônia também pode explicar esse cenário de queimadas elevadas que a gente tem visto nas últimas semanas", acrescenta Napolitano.

Foto mostra o Teatro Amazonas, no Centro de Manaus, no dia 12 de outubro, encoberto por fumaça de queimadas. — Foto: BRUNO KELLY/REUTERS

Nesta terça-feira (9), o Ministério Público Federal (MPF) acionou a Justiça Federal em busca de explicações do Governo do Amazonas sobre suas ações contra as queimadas e pediu documentos que demonstrem as medidas adotadas pelo estado desde 2019, incluindo as que abragem o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas do Amazonas (PPCDQ 2020-2022).

A instituição questiona a eficácia dessas ações, alegando falta de evidências, e destaca o aumento de internações de crianças por problemas respiratórios nas áreas afetadas pela fumaça, citando um estudo da Fiocruz.

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