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Nos EUA, o senador republicano Marco Rubio alegou que o TikTok “serve” ao Partido Comunista da China e não há mais tempo “para negociações sem sentido”
Nos EUA, o senador republicano Marco Rubio alegou que o TikTok “serve” ao Partido Comunista da China e não há mais tempo “para negociações sem sentido”| Foto: EFE/EPA/RITCHIE B. TONGO

Durante a semana passada, parlamentares americanos apresentaram um projeto para impedir o uso do TikTok no país. No fim de semana anterior, Taiwan proibiu que dispositivos estatais se conectem à plataforma criada pela chinesa ByteDance. Um dia antes, o presidente francês, Emmanuel Macron, fez um anúncio sobre os riscos de saúde para crianças e o uso político do TikTok por parte da China e da Rússia.

A plataforma chinesa superou a popularidade do Google e do Facebook em 2021 e deve atingir 1,8 bilhão de usuários até o final de 2022. Pela Lei de Inteligência Nacional chinesa, de 2017, empresas do país devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que teoricamente as obriga a atender às demandas de Pequim.

Priscila Caneparo, doutora em direito internacional e professora de relações internacionais no UniCuritiba, lembrou que na China o controle de dados da população é evidente: todos os dispositivos já saem de loja com um software que faz esse controle. Para estender esse monitoramento ao mundo, somente com a disseminação de aplicativos. "A grande preocupação dos governos do Ocidente é que esse seria um mecanismo de espionagem", resumiu a professora.

A desconfiança em relação ao TikTok aumentou dois anos depois de o ex-presidente americano Donald Trump afirmar que era necessário controlar o uso do app nos Estados Unidos. O Buzzfeed News afirmou, em junho deste ano, que alguns dados de usuários dos EUA foram acessados repetidamente na China.

A reportagem citou gravações de áudio vazadas de dezenas de reuniões internas do TikTok, incluindo uma em que um funcionário da empresa supostamente disse: “Tudo é visto na China”.

Em resposta ao relatório, o TikTok disse que “engenheiros em locais fora dos Estados Unidos, incluindo a China, podem ter acesso aos dados de usuários conforme necessário, sob controles rígidos”.

Um executivo do TikTok testemunhou perante o Senado americano no ano passado e afirmou que não compartilha informações com o governo chinês e que uma equipe de segurança dos EUA decide quem pode acessar dados de usuários americanos na China.

Um estudo divulgado em julho deste ano pela Internet 2.0, empresa australiana especializada em cibersegurança, apresentou novos problemas em relação ao TikTok. De acordo com a análise, o aplicativo chinês é “excessivamente intrusivo” e realiza uma “excessiva” coleta de dados dos usuários.

A pesquisa decifrou o código-fonte e identificou como uma série de dados está sendo direcionada sem que o usuário perceba. A análise técnica apontou que o aplicativo verifica a localização do dispositivo pelo menos uma vez por hora e tem acesso contínuo ao calendário e aos contatos. Com isso, informações confidenciais estariam sendo enviadas diretamente à China.

Proibição nos EUA 

O projeto de lei que prevê o bloqueio do aplicativo em território americano foi apresentado pelo senador republicano Marco Rubio e teve o apoio de dois deputados, o republicano Mike Gallagher e o democrata Raja Krishnamoorthi. Para eles, existe um risco à segurança nacional.

“O governo federal ainda não tomou uma única ação significativa para proteger os usuários americanos da ameaça do TikTok. Não se trata de vídeos criativos - trata-se de um aplicativo que coleta dados de dezenas de milhões de crianças e adultos americanos todos os dias”, afirmou o republicano.

“Sabemos que é usado para manipular feeds e influenciar eleições. Sabemos que serve à República Popular da China. Não há mais tempo a perder em negociações sem sentido com uma empresa fantoche do PCCh [Partido Comunista da China]. É hora de proibir o TikTok, controlado por Pequim, para sempre”, acrescentou Rubio.

O estado de Dakota do Sul já proibiu, em 29 de novembro, o uso do aplicativo em aparelhos estatais. A ordem executiva de Dakota do Sul proíbe não apenas o uso da plataforma, mas também o download do aplicativo e até mesmo a visita ao site em qualquer dispositivo estatal com conexão à internet.

Os estados de Carolina do Sul e Maryland também anunciaram medidas parecidas no último mês. As Forças Armadas dos Estados Unidos e a Administração de Segurança de Transporte (TSA) tomaram ações semelhantes.

Taiwan proíbe aplicativo no setor público 

O país vizinho da China proibiu o uso do aplicativo mais baixado do mundo nos aparelhos do setor público. Taiwan vive forte conflito político e ideológico com o gigante chinês, que insiste em afirmar que a ilha faz parte de seu território.

Conforme a Radio Free Asia (RFA), o aplicativo será proibido nos dispositivos fixos e móveis do setor público, por questões de “segurança nacional”. A decisão a respeito do TikTok segue uma tendência em Taiwan, que antes já havia banido outros serviços e conteúdos de internet provenientes da China, como a plataforma de multimídia iQiyi e os jogos da Tencent.

As proibições se baseiam nas suspeitas de que empresas do setor digital, entre elas as companhias de telecomunicações, sirvam aos interesses do PCCh.

Propaganda russa e chinesa 

No último dia 8, o presidente da França, Emmanuel Macron, em viagem a Fontaine-le-Comte para um debate sobre saúde mental infantil e juvenil, criticou profundamente a rede social. Segundo ele, trata-se do “maior perturbador” e a “rede mais eficaz” entre crianças e adolescentes.

Macron declarou que o TikTok tem uma tecnologia muito mais eficiente que a americana para “empurrar” conteúdo para esse público, criando “um verdadeiro vício entre os jovens”. O presidente francês ainda citou a “propaganda russa” escondida nesses conteúdos.

O líder também destacou a censura a postagens sobre a realidade interna do regime chinês. “Desafio vocês a encontrarem conteúdo sobre o que está acontecendo em Xinjiang ou algo assim”, denunciou o chefe de Estado, em referência à repressão e ao trabalho forçado dos uigures no território autônomo do noroeste da China.

O TikTok é diferente na China 

Uma recente declaração de Tristan Harris, ex-funcionário de alto escalão do Google, ao prestigiado programa americano 60 Minutes, da CBS, reforçou a preocupação internacional sobre o tema. "Na versão deles do TikTok, se você tem menos de 14 anos, eles mostram experimentos científicos para fazer em casa, passeios a museus, vídeos patrióticos ou educativos. E limitam o uso a 40 minutos por dia. Eles não espalham essa versão do TikTok para o resto do mundo. Eles sabem que a tecnologia influencia o desenvolvimento dos jovens. Para o mercado interno, eles vendem uma versão simplificada, enquanto exportam ópio para o resto do mundo”, revelou.

Harris deixou o Google em 2015, depois de ter alertado no início dos anos 2010 sobre os efeitos perigosos que as novas tecnologias têm sobre a atenção. Ele também foi entrevistado para o documentário americano "O Dilema das Redes", da Netflix, dirigido por Jeff Orlowski.

“Estudos na China e nos Estados Unidos têm procurado descobrir a carreira que inspira os jovens para o futuro. A resposta? Nos Estados Unidos: influenciador. E na China: astronauta. Deixe essas duas sociedades se desenvolverem ao longo de algumas gerações, e eu posso lhe dizer como o mundo será”, observou Harris.

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