A indústria da carne e laticínios planeja comparecer em peso na COP28, que começa na quinta-feira (30) em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. De acordo com documentos vistos pelo The Guardian e o DeSmog, empresas do setor, incluindo JBS, pretendem levar até os líderes globais uma mensagem a favor dos seus produtos.
Os relatórios, produzidos pela Global Meat Alliance (GMA), que é financiada por este mercado, evidenciam o desejo das companhias de promover “as nossas evidências científicas” na cúpula do clima, indicando, inclusive, que a carne é benéfica para o meio ambiente.
Os grupos comerciais também deram algumas indicações nos documentos sobre como esperam moldar as conversações em Dubai. Um deles afirmou que irá “pressionar” a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) a acolher “conteúdo positivo sobre pecuária”.
Essas empresas estão sob crescente pressão devido às suas grandes emissões de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. A indústria de laticínios, por exemplo, é responsável por 3,4% das emissões mundiais, uma porcentagem superior à da aviação.
A pecuária, por sua vez, é a maior emissora de metano, um gás de efeito estufa 80 vezes mais potente que o dióxido de carbono quando medido ao longo de um período de 20 anos.
“Essas empresas estão intensificando seu jogo porque a exposição que enfrentam está aumentando”, observou Jennifer Jacquet, professora de Ciência e política Ambiental na Universidade de Miami, dos Estados Unidos, ao The Guardian. “Antes elas eram pegas de surpresa, mas agora estão completamente preparadas.”
Nusa Urbancic, CEO do grupo de campanha Changing Markets Foundation, acrescentou que “qualquer ação credível para reduzir as emissões no setor alimentar levará inevitavelmente a uma redução no volume total de carne e produtos lácteos produzidos”.
“A indústria está aterrorizada com isso e tem implementado múltiplas táticas para atrasar o inevitável”, afirmou ela.
Companhia de grupos de lobby e eventos em pavilhões
A reportagem do jornal britânico pontua que as empresas que estarão na COP28 serão acompanhadas por grupos de lobby que as representam, alguns com um histórico de ação obstrutiva. Caso,por exemplo, do North American Meat Institute (Nami), que representa os grandes produtores de carne norte-americanos e que, em 2022, ainda questionava no seu site se as mudanças climáticas eram causadas pelos seres humanos.
Segundo os documentos vazados, as indústrias promoverão eventos em pavilhões de alguns países durante conferência do clima, incluindo o dos Estados Unidos e o da Austrália, que são o terceiro e o segundo maiores exportadores de carne bovina a nível mundial – a primeira posição é ocupada pelo Brasil.
Também consta no material um resumo de mensagens com os principais pontos de discussão que apresentam a carne como “nutrição sustentável” e sugerem que a sua produção pode ser benéfica para o meio ambiente.
Em uma parte dos documentos, a Global Meat Alliance afirma que as indústrias podem “desempenhar um papel fundamental em sistemas alimentares ambientalmente sustentáveis” e que estão “continuamente a avançar para uma agricultura amiga do carbono”.
O The Guardian destaca que vários destes argumentos fazem referência à ideia de que o pastoreio do gado pode ajudar a manter solos saudáveis, armazenando carbono. Isto é descrito como “agricultura regenerativa”, mas os cientistas afirmam que os solos não são ideais para armazenar carbono a longo prazo e que estas remoções de gases de efeito estufa da atmosfera podem ser facilmente desfeitas.