Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

O que se esconde na palavra «filho»?

Ia eu todo contente escrever um texto sobre a palavra «filho», quando reparo que, lá na origem do vocábulo, há um ou dois factos um pouco embaraçosos. Hesito um pouco: será que conto? Sim, conto. O leitor há-de gostar de saber o que se esconde na história desta palavrinha — e, pelo caminho, ficamos a saber por que razão as línguas mudam…

Viagem à origem da palavra «pai»

Antes de chegarmos ao «filho» — e porque já falei por aqui da palavra «mãe» —, decidi olhar para a palavra «pai». É, pelos vistos, uma palavra sólida, que aguentou as tempestades dos séculos. Mudou de som, claro, mas não mudou de significado.

Se andarmos para trás no tempo a partir da palavra portuguesa, passamos pelo «padre» de textos portugueses antigos, pelo «pater» latino — até chegarmos à reconstrução do proto-indo-europeu: «*ph₂tḗr» (estas palavras têm este aspecto estranho porque ninguém as escreveu — as letras representam os supostos sons reconstruídos a partir da comparação das várias línguas indo-europeias).

Ora, este «*ph₂tḗr» deu origem ao «pater» latino (e suas descendentes) — mas também às várias palavras para pai nas línguas germânicas. Nestas, o som inicial do indo-europeu transformou-se num «f» ou som semelhante: «father», por exemplo. Este é apenas um exemplo de vários: em muitos casos, as palavras que começam por «p» nas línguas latinas, começam por «f» nas línguas germânicas. Pensemos, apenas para dar mais um exemplo, no «peixe» português e no «fish» inglês. Ambas vieram do proto-indo-europeu «*peysḱ-».

Ora, antes de avançarmos para a palavra «filho» e para as surpresas que essa palavra nos reserva, convém olhar melhor para estas mudanças todas. De «*ph₂tḗr», chegámos a «pai». Foram grandes mudanças…

Podemos cair no erro de pensar que esta sucessão se fez em etapas bem definidas. Seria algo do género: durante muito tempo, a palavra foi «*ph₂tḗr». Depois, por algum motivo, houve uma rápida mudança até «pater» na zona do Império Romano (esqueçamos os germânicos por agora — bem como todas as outras subfamílias indo-europeias). Os romanos usaram essa bela palavra durante séculos e séculos, sem mudanças, até que, talvez no fim do Império Romano, a palavra começou a mudar até chegar às formas das línguas latinas: «pai», «padre», «pare», «père», etc. Estas formas seriam, agora, as definitivas em cada uma destas línguas…

Este engano acontece porque olhamos para a palavra na escrita. A escrita é uma espécie de fotografia de um determinado momento da palavra. E, tal como as fotografias, a escrita dá-nos a sensação de estarmos perante uma língua parada, quando, na verdade, está sempre em movimento. Mais: a escrita leva-nos a crer que o ideal é a língua não mudar. Quando, na verdade, uma língua parada é uma língua morta. Isto não é apenas uma frase bonita — é uma realidade muito concreta da linguagem humana. Vou explicar.

Uma sucessão de fotografias

Quando olhamos da sucessão de palavras que vai de «*ph₂tḗr», vemos relativamente poucos passos: 1. «*ph₂tḗr» (uma reconstrução); 2. «pater»; 3. «padre»; 4. «pai». Ignoro aqui as variações meramente ortográficas («pay», «pae», por exemplo).

Ora, cada um destes passos é apenas uma cristalização de um determinado momento na longa evolução de cada palavra — ela nunca pára de ser moldada pelas gerações.

Estas mudanças são quase imperceptíveis, mas contínuas…

Para perceber melhor isto, imaginemos que tiramos uma fotografia ao nosso filho todos os dias, durante uma semana. Se pusermos as fotos ao lado umas das outras, dificilmente veremos diferenças — a não ser que ele tenha mudado de penteado num dos dias.

Já se fizermos o mesmo exercício com uma fotografia a cada mês, será possível observar algumas mudanças.

Se fizermos o exercício uma vez por ano durante vinte anos, então, sim, temos uma sucessão de fotografias que documentam uma mudança profunda.

As palavras mudam todos os dias, mas de forma muito mais lenta do que as mudanças do aspecto de um ser humano. Se apenas olharmos para as fotografias de cada palavra ao longo da nossa vida, é um pouco como se olhássemos para as fotografias de uma pessoa ao longo de uma semana. Já se olharmos para as palavras ao longo dos séculos, podemos ver as diferenças que vão aparecendo e moldando, sem cessar, as línguas.

Porque mudam as línguas?

As mudanças são, quase sempre, muito subtis. Aparecem porque cada um de nós diz cada som de forma ligeiramente diferente — temos bocas e gargantas diferentes e ouvimos as palavras também de maneira ligeiramente diferente. Se pedirmos a cem pessoas para dizer a letra «e» e se analisarmos com atenção cada som, veremos que são todos ligeiramente diferentes. E, no entanto, reconhecemos essa nuvem de sons diferentes que saem das bocas dos falantes como o mesmo som, o que nos permite construir palavras que partilhamos com os outros (as línguas vivem nesta permanente tensão entre o que é individual e o que é colectivo).

Ora, essa nuvem de sons vai mudando ao longo do tempo — e no espaço. Os sons que ouvimos em determinada época para representar a mesma letra (uma letra será a representação gráfica dessa nuvem) não serão os mesmos. Usando os termos comuns na linguística, a nuvem de fones em redor de cada fonema vai mudando ao longo do tempo. Pense o leitor na miríade de maneiras de dizer o som «v» em todo o país. Se reparar bem, há muitas leituras possíveis. Pois bem: os sons mudam, mas continuamos a reconhecer o mesmo fonema, ou seja, a mesma unidade. (Já agora, uma nota: a ortografia tende a representar a fonologia da língua e não a fonética. Se representasse a fonética, teria de ser diferente de região para região, de época para época…)

Bem, voltemos à nossa pergunta: porque mudam as línguas? Este é um facto das línguas pouco conhecido e muito interessante: a mudança ao longo do tempo acontece porque existe variação entre os falantes — e isto acontece inevitavelmente, porque não há dois falantes iguais, com corpos iguais e vidas iguais. Falo de algo concreto, físico: cada som é dito de maneira diferente porque as gargantas e as bocas de cada falante são diferentes — e a maneira como aprendemos o som também é sempre diferente (somos todos ensinados por um conjunto de pessoas diferente).

Ora, as tendências de determinados falantes ou regiões vão ganhando força, substituindo as tendências de outros falantes ou regiões — num jogo muito complexo e imperceptível ao «ouvido nu», este ou aquele som são trazidos para a frente do palco linguístico. Só um exemplo concreto: o som «tch» era muito comum no país inteiro. Por caminhos que são impossíveis de reconstruir, começou a recuar, a ser substituído pelo som «ch», que já existia, mas era usado apenas em certas palavras. Desta forma, perdeu-se a distinção que ainda hoje vemos, na ortografia, na diferença entre a letra «x» e o dígrafo «ch».

Estas mudanças não são apenas sonoras: acontecem no significado das palavras; na conotação que damos a cada palavra; nas nossas atitudes perante cada palavra (ou conjunto de palavras). Tudo isso muda ao longo do tempo — porque é ligeiramente diferente em cada falante. Na contínua negociação do significado das palavras, vamos sublinhando este significado e vamos apagando o outro; vamos começando a achar que esta palavra é menos aceitável — ou que afinal já podemos dizer esta outra palavra em qualquer situação. É um jogo subtil, complexo, difícil de descrever.

Como é que tão poucos reparam nesta mudança contínua?

Primeiro, porque a escrita e a existência de uma norma leva-nos a crer que a boa língua é a língua que existe, parada, nos dicionários e gramáticas na estante. Ora, nem nos dicionários nem nas gramáticas ela está parada, mas muitos estão convencidos de que sim. Mais do que isso: estas mudanças, que arrepiam tanta gente, fazem-se de forma lenta, ao longo de décadas ou séculos.

Depois, quando de facto notamos algumas das mudanças, um mecanismo mental que me parece existir em todas as sociedades leva-nos a crer que a mudança é sempre um erro. Como ainda há pouco tempo ouvi um linguista a dizer, com muita graça, todos nós aceitamos que a língua muda — só não gostamos da maneira como ela muda…

E, no entanto, ela muda! Continuando a olhar para os sons, podemos ver como o «r» português está a mudar neste preciso momento! E também podemos ver como a qualidade das vogais nas sílabas átonas é muito diferente da pintura que nos dá a escrita — não só o «o» se lê «u» em muitas sílabas átonas, como, em muitos casos, esse «u» tem já uma leitura muito mais sumida do que pensamos — numa conversa normal, o último «o» de «todo» já é uma vogal quase desaparecida.

Isto são apenas exemplos. Basta ouvir o discurso de um falante de 70 anos e outro de 17 anos numa qualquer terra portuguesa para vermos diferenças entre falantes vivos. Aliás, voltando atrás, basta ouvir dois falantes quaisquer para vermos como a língua não é igual em duas bocas…

Enfim, há palavras que ficam iguais durante muito tempo, outras que mudam rapidamente. Há sons que sofrem alterações que levam a mudanças noutros sons. As vogais, por exemplo, estão sempre a dançar um pouco, nunca estão fixas, pois o seu timbre depende da exacta forma que damos à boca e, por isso, ninguém produz uma vogal exactamente igual a outra pessoa. Quando a nuvem de sons em redor de uma letra vogal começa a aproximar-se de outra vogal, esta desloca-se para manter o mesmo grau de diferença (um mecanismo inconsciente que encontramos em várias línguas).

Quando uma língua tem uma norma escrita, a mudança irá desacelerar — a norma é uma força que tende a uniformizar a língua entre os falantes de cada época e, assim, pela lógica exposta acima, acaba por actuar como travão da mudança ao longo do tempo. No entanto, a norma não é um travão a fundo. A língua continua a mudar — e, com ela, a norma. O processo de mudança da norma costuma ser ligeiramente mais consciente e, por vezes, tem cariz político (e muito arbitrário). Já o processo praticamente invisível de constante desbaste e reconstrução das palavras — esse é suave, imperceptível, visível apenas quando olhamos para trás, para os séculos, e percebemos as diferenças nas fotografias tiradas no momento do registo escrito das palavras.

A surpresa na palavra «filho»

Já andámos muito e ainda não chegámos à palavra prometida no título: «filho»!…

A palavra «pai» pode ser enganadora. Parece que as palavras mudam de sonoridade, mas raramente de significado. Não é assim: há conceitos que tendem a permanecer congelados numa palavras, mesmo quando esta se desfaz e se recria à ventania da mudança sonora. As palavras para designar os familiares são desses casos.

Mas, principalmente quando as palavras têm algum nível de abstracção, a mudança de significado pode ser tão rápida como a mudança de som (ou mesmo mais rápida ainda).

Curiosamente, até uma palavra de significado aparentemente tão sólido como «filho» tem um percurso bastante sinuoso…

Antes de chegarmos ao «filho» português, olhemos para a palavra inglesa «son». Confirmamos que a mesma vem da palavra proto-indo-europeu para «filho». A palavra era, diz-nos a reconstrução produzida pelos linguistas nos últimos 200 anos, a seguinte: «*suh₁nús». Vemos nessa palavra, aliás, a semente dos sons de «son». Também a palavra para «filha», em inglês, tem ainda o aspecto da sua antepassada: «*dʰugh₂tḗr».

Já o nosso «filho» português… A coisa é mais complicada. A raiz não é a mesma palavra que deu origem a «son».

A raiz é (eu não tenho culpa) a palavra «sugador», ou seja, «*dʰeh₁y-li-os», que terá tido origem no verbo «*dʰeh₁(y)-» («sugar»).

A mesma raiz deu origem a «filho», «feminino», «fêmea» e «feto» (e, hum, enfim, numa progressão bastante mais fiel ao sentido original — tapai os ouvidos aos filhos neste momento para evitar perguntas inconvenientes —, a palavra indo-europeia deu-nos também «felação»…).

Como é que isto aconteceu? Diria que tudo terá a ver com o acto de mamar, que levou a uma associação entre «sugar» e «filho». O filho será o sugador. Se fosse inglês, imaginaria agora um pai indo-europeu a dizer à mãe: «Where is the little sucker?…» Mas como não sou, não imagino nada.

Em menor ou maior grau, quase todas as palavras sofrem destas transformações, mais tarde ou mais cedo. Aliás, quanto mais abstracta, mais fácil é haver uma mudança de sentido rápida… Pensemos apenas na palavra «cultura», que já ninguém controla.

Viagem pelo céu da boca

Para terminar, podemos olhar para o que aconteceu com a palavra «filho» do latim até às actuais línguas. Será uma amostra de todas as malfeitorias que os falantes fazem às palavrinhas…

Pois bem, olhemos para o latim «filius». Como chegámos ao que temos hoje? As palavras lá foram andando, pelos séculos, dividindo-se em várias regiões.

Aqui na zona ocidental da Península Ibérica, aquele «l» seguido dum «i» levou o «l» a transformar-se num «lh». Repare o leitor (experimente mesmo na sua boca): o «i» obriga a língua a levantar-se até ao palato. Com os séculos, este movimento foi puxando a consoante anterior, que assim se aproximou também do palato e, enfim, fundiu-se como «i». Com mais um ou outro movimento, passámos de «filius» a «filho».

Já em castelhano, o que temos é a transformação do «f» num som que, entretanto, desapareceu e ficou, na escrita, como um «h». Já o «li» levou a língua a fazer um movimento mais radical — mais do que ao palato, a língua encosta-se lá bem atrás: «hijo».

Os catalães fizeram mais ou menos o mesmo que nós, mas deram um pontapé à vogal final: «fill». O occitano fez o mesmo, mas usa outras letras para representar o mesmo som: «filh».

Já os franceses… Enfim, como sempre, temos de ignorar a escrita para perceber o que se passa. Os franceses mantêm o «l» na escrita («fils»), mas no dia-a-dia dizem «fiss».

Os italianos usam um «figlio» não muito diferente, na boca, do nosso «filho» (mas suficientemente diferente para me ser difícil descrever o som).

E os romenos? Como os franceses, evitam os sons do meio — mas admitem isso mesmo na escrita: «fiu».

Há mais línguas latinas, mas fiquemos por estas…

Pelos séculos fora, os falantes foram mudando, gradual e imperceptivelmente, a maneira como pronunciavam os sons da palavra. Vemos isto na maneira como a mesma palavra deu origem a palavras muito diferentes em zonas diferentes — estas mudanças são imprevisíveis e complexas. E, claro, não terminaram: daqui a quinhentos anos, o «filho» que sairá da boca dos portugueses será diferente do «filho» que sai da nossa boca. Se tivesse de apostar, diria que o último som cairá e o nosso «filho» será dito à catalã: «filh». Mas também aposto que a ortografia não irá reflectir esta queda e uma das regras da leitura do português europeu será: o «o» átono, no final das palavras, não se lê.

Ou então acontecerá outra coisa qualquer… Mas que a língua vai mudar, isso vai. A variação linguística, no espaço e no tempo, é inevitável. A linguagem é produto de um cérebro animal, orgânico, imperfeito, diferente em cada organismo. Não somos robots produzidos em série e, por isso, a língua muda a cada geração, a cada pessoa, a cada conversa.

Não posso terminar sem sublinhar que estas mudanças não acontecem apenas nas palavras — a própria gramática da língua está sujeita às mesmas forças e à mesma mudança. Mas sobre isso teremos de falar noutro dia, que esta viagem já vai longa e tenho de ir estudar com o meu filho, que está a aprender a ler e a escrever…

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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16 comentários
  • Em lituano, tido como a língua indo-europeia mais conservadora que existe, «*suh₁nús» deu sūnus.

  • Excelente, para não variar.

    E é verdade. Na fala espontânea, a única vogal átona (!) que subsiste em final de palavra, em Português Europeu, é «â».

  • Artigo interessante e esclarecedor. No meio de tanto (no Brasil) descuido com a língua portuguesa e de já tantas explicações erradas que lemos sobre muitas coisas, um texto perfeitamente fundamentado e redigido, como este, é um tesouro! Meus cumprimentos ao autor(a)!

  • Bem, como me fizeste hoje lembrar o Professor António Damásio!
    Falas de sons, palavras e mudanças como ele fala de impulsos nervosos, neurónios e evolução. Parabéns!
    Um pedido, talvez a reboque de uma pressa preguiçosa: se é tradição dizer-se que o gene é a unidade básica da genética, o neurónio do sistema nervoso e o meme da cultura (esta última aprendi com James Gleick); e sendo o bit da informação… será que é possível estabelecer-se uma unidade básica da linguagem?

      • muito bom este blog! gostei de ler e vou continuar.
        Há tempos soube que “freguesia” vem de: filhos da igreja e que “paróquia” vem de algo diferente, que não me lembro. Podia explicar-me. mto obg celeste

  • Duas notinhas. 1) A propósito do som de “ch”: não há muitos anos (talvez há uns cinquenta) lembro-me, para meu espanto, habituado que estava aos lisboetas [maxado] e [xouriço], de ouvir o meu falecido tio beirão, residente em Pinhel, dizer [matxado] e [txouriça]. 2) A propósito da palatalização do [li]: anos mais tarde, já pai, a nossa primogénita ainda adolescente continuava a dizer [fília] por [filha], o que prova a transformação natural do [li] em [lh] (ou [gl] ou [ll]). Para a detectar, basta pedir a alguém que diga rápida e repetidamente “filia”. Ao fim de pouco tempo, “sai” “filha”. O mesmo sucede com outras palatalizações como, por exemplo, “mania” –> “manha”

    • Levei mais do dobro do tempo previsto na leitura deste artigo porque é tão sumarento que precisa de tempo para ser apreciado como bem merece.
      Obrigada por nos dar a oportunidade de aprender conceitos tão interessantes sobre linguística e os meandros da evolução da língua portuguesa. Logo que possa vou adquirir um dos seus livros porque estes assuntos interessam-me muito.
      Dilva

    • Nos meus tempos de escola o professor de historia, que era nortenho, a proposito que não recordo, que em Chaves diziam Tchaves .

      • Sim, é um som que já foi comum a grande parte do país e hoje está confinado a certas zonas de Trás-os-Montes.

  • Muitíssimo interessante e, ainda por cima, com uma estrutura cativante. Estava quase a desistir de ler as notícias sobre língua que me aparecem da ncultura, mas por acaso vi que esta era escrita pelo Marco Neves e achei que não podia ter a falta de qualidade e interesse das outras notícias que aí me têm aparecido. Pois mesmo depois de já estar com grandes expectativas acabei por gostar ainda mais do que aquilo com que contava.
    Daqui por diante, quando quiser insultar alguém em inglês, passarei a fazer uma tradução literal e a chamá-lo mothersucker.

  • Este artigo fez-me regressar a um passado já longínquo em que eu era miúdo e ouvia no Rádio Clube Português um professor, suponho que se chamava Amaral, e se considerava o primeiro inter-linguista Português. Ouvia-o todas semanas e, ainda hoje, tenho tendência a comparar idênticas palavras das Línguas que conheço. Gostaria de dizer algo sobre a questão da evolução. Considero que há a natural, a forçada e a ignorante. Para todas elas terá de haver um travão. Se não chega-se a coisas ridículas. Soltei uma boa gargalhada quando ouvi, em Espanha, a palavra “Párrafo” e quando descobri o que significa “rúbea”. Uma coisa semelhante acontece, neste momento, em que, depois de “os mídia”, passámos a “a mídia” e agora já se vê “as mídias”.
    Deixem-me tentar exprimir a minha ideia sobre o assunto. Uma Língua escrita é um código que permite pôr em símbolos as nossas ideias, pensamentos, acontecimentos, etc. Um bom código deve ter uma decifração única e ser redundante, para permitir a correcção de certos erros. Acontece que as evoluções forçadas, como o AO, tende a reduzir ambas. P. ex. se eu escrever que tenho um problema “ótico”? Com elevada probabilidade, entenderão que vejo mal. Não é verdade. Vejo muito bem. Ouço muito mal. Por outro lado, outras tendem a aumentar o esforço e, muito importante hoje em dia, a aumentar a ocupação informática. P. ex., porque razão não se escreve, como se escreveu até 1911, Portuguez em lugar de Português? E “veram” do verbo ver, em vez de “verão”?
    Portanto, a aceitação de uma dada evolução devia ser vista com cuidado de forma a não complicar a leitura e interpretação. Por outro lado, não me parece útil fazer alterações forçadas que nos afastam de Línguas “irmãs”, criando complicações desnecessárias aos nossos estudantes.

  • Muito bom. A extinta Revista de Historia da Biblioteca Nacional fez um artigo, que tenho guardado em algum lugar, que mostra em português arcaico o verbo “parir” sendo usado para se referir ao nascimento de Jesus. É chocante ver uma palavra hoje usada para animais ou para ofensas ser parte de uma piedosa oração medieval. O texto pareceu-me pecaminoso.

    Outro assunto religioso é sobre uma oração católica antiquíssima que se referia aos judeus como “pérfidos” no texto latino. A defesa que a Igreja fez da oração era que pérfido significaria originalmente incréu e que a própria oração teria feito a palavra aos poucos mudar de significado.

    Hoje em dia temos algo parecido. Poucas pessoas sabem porque o filho da parábola é pródigo. E porque um Samaritan bom é motivo de tantas surpresas.

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