Gustavo Pinheiro
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Por Gustavo Pinheiro

Pela primeira vez em 4 anos, o Brasil chegou à COP com uma agenda positiva. A redução do desmatamento na Amazônia desde a posse de Lula foi exibida como resultado do compromisso do novo governo com a ação climática. Em seu discurso de abertura, Lula disse que o aquecimento global pode transformar a floresta Amazônica em Cerrado e destacou os setores de energia, indústria e transportes como fontes de emissão que precisam ser endereçadas. Porém, o chamamento à "missão 1.5ºC" omitiu a necessidade de eliminação do uso do Carvão, Petróleo e Gás Fóssil.

Além do chamamento à missão de limitar o aquecimento global à 1.5ºC, o governo brasileiro aproveitou o segmento ministerial da conferência para angariar apoio às propostas de um novo fundo global para florestas, para o plano de transformação ecológica e para o financiamento do Fundo Amazônia para restauração florestal anunciado pelo BNDES. Mas foi a informação de que o Brasil entrará para Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) que gerou maior comoção entre delegados internacionais e ativistas climáticos.

"A transição energética tem que falar de Petróleo, presidente, tem que falar!", cobrou a ativista Marcele Oliveira em reunião com Lula. Jovem negociadora pelo clima e membra da Coalizão o Clima é de Mudança, Marcele foi interrompida e ovacionada pelos representantes de 135 organizações da sociedade civil brasileira. Na mesma reunião, o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini, pediu ao presidente que ocupasse o vácuo de liderança global apresentando uma proposta pelo fim do uso dos combustíveis fósseis e também foi aplaudido.

Lula não se comoveu com os pedidos e em sua fala tentou contornar a repercussão negativa do anúncio da adesão do Brasil ao cartel dos grandes exportadores de petróleo.

Disse que o Brasil entrará para a OPEP+ e não para a OPEP, e teceu uma analogia com a sua participação nas reuniões do G7 como convidado. Argumentou que o país entraria para convencer as outras nações exportadoras a planejarem a transição e cobrou os ativistas presentes à lutarem pela democracia sob o risco da volta de governantes não comprometidos com a agenda climática, em referência ao antecessor.

Sempre me admirou muito a capacidade retórica de Lula, mas não podemos negar a realidade. O Brasil é um grande produtor e exportador de Petróleo e parece que é o governo liderado por Lula que precisa ser convencido a planejar a transição.

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Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP) o Brasil atingiu recorde na produção de óleo e gás fóssil no mês de setembro, com a extração de 4,7 milhões de barris de óleo equivalente por dia. No final de outubro, o diretor-geral da ANP, Rodolfo Saboia, destacou na abertura da Conferência de Tecnologia Offshore os investimentos de mais de US$90 bilhões nos próximos cinco anos para que 20 plataformas entrem em produção até 2027. O Brasil alcançou a 10ª posição no ranking dos maiores exportadores de petróleo de 2022, segundo dados do Centro Internacional de Comércio (ITC).

Quem roubou a cena na COP28 entre os países exportadores de Petróleo foi o presidente da Colômbia, Gustavo Petro. Assim como ocorreu na Cúpula da Amazônia realizada em Belém, o chefe de Estado colombiano ocupou o vácuo de liderança global ao aderir ao Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis.

Petro classificou o fim dos combustíveis fósseis como uma questão de defesa da vida no planeta: "Estamos assistindo a uma confrontação do capital fóssil contra a vida humana. Numa situação assim, temos que ficar do lado da vida", disse em seu discurso na abertura da Conferência. Questionado sobre o que achava do argumento de Lula para entrar na OPEP+ para convencê-los à transição, disse que os árabes já estão convencidos.

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