Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF) realiza cerimônias de carga e lacração das urnas eletrônicas Foto: Jorge William / Agência O Globo

Mensagens com conteúdo #FAKE sobre fraude em urnas eletrônicas se espalham nas redes

Confira os boatos mais compartilhados na reta final da campanha

por Marina Mota , TV Globo, Marlen Couto, O Globo, e Gessyca Rocha, G1

Às vésperas das eleições, circulam pelo WhatsApp e em outras redes sociais mensagens, vídeos e fotos com conteúdos falsos que lançam dúvidas sobre as urnas eletrônicas brasileiras. No entanto, nunca foi provada nenhuma fraude.

O equipamento começou a ser implantado em 1996. Na preparação para cada eleição, as urnas passam por uma série de testes. A Justiça Eleitoral permite que representantes da sociedade possam analisar e verificar a autenticidade dos equipamentos. Especialistas dizem que alguns desses testes revelaram falhas de segurança no sistema. Apesar disso, jamais se provou algum tipo de fraude.

A equipe do Fato ou Fake verificou alguns dos boatos mais compartilhados sobre as urnas eletrônicas na reta final da campanha. Confira:

Estudos indicam chance de 73,14% de fraude?

Mensagem com conteúdo falso diz que estudos internacionais indicam que probabilidade de fraude na última eleição presidencial foi de 73,14% - Reprodução

Em um vídeo publicado no YouTube do canal "Brasil Paralelo", com 1,3 milhão de visualizações, um homem identificado como Hugo Cesar Hoeschl afirma que “estudos internacionais indicam que a probabilidade de fraude na última eleição presidencial foi de 73,14%”. O autor, que diz já ter trabalhado como delegado, promotor e procurador, afirma ainda que as urnas eletrônicas brasileiras não são auditáveis. As informações sobre as urnas são #FAKE.

O grupo cita um estudo divulgado em 2015 denominado "Evidências de inconformidades formais nos dados da apuração da eleição eletrônica brasileira de 2014", que concluiu "grau de consistência probabilística da eleição eletrônica brasileira de 2014 de 26,851%" e reprovação de 73,149%. O estudo usa a Lei de Newcomb Benford, uma ferramenta de mineração de dados, como metodologia. Um dos autores da nota técnica é Hugo Cesar Hoeschl, responsável pelo vídeo checado. A pesquisa reconhece, porém, que não é possível afirmar taxativamente que houve fraude eleitoral em 2014 e diz que até o momento de sua publicação não há prova material de fraude.

O Fato ou Fake não localizou a publicação do estudo em nenhuma revista científica nacional ou internacional. Os autores do novo vídeo do "Brasil Paralelo" afirmam que a nota técnica foi apresentada no Conclave da Democracia em Washington, realizado em 2015. O evento, porém, não é científico.

Sobre as possíveis fraudes e ausência de auditoria nas urnas eletrônicas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirmou, na última sexta-feira, que "há vinte e dois anos, as urnas eletrônicas têm sido utilizadas nas eleições brasileiras sem nenhuma comprovação efetiva de fraude". O tribunal informou ainda que "o resultado das Eleições Gerais de 2014 foi auditado de modo independente por iniciativa de partido político, sem que qualquer irregularidade fosse identificada”. E diz que que “não há registro, porém, de que o autor do vídeo tenha participado de qualquer evento de auditoria e transparência, a exemplo dos testes públicos de segurança realizados pelo TSE e da apresentação dos códigos-fonte".

Sobre a Lei de Newcomb-Benford, Claudio Landim, matemático e diretor-adjunto do IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), diz que ela é uma lei empírica, observada pela primeira vez, em 1881, pelo atrônomo Simon Newcomb, que descreve a frequência relativa do primeiro dígito significativo em certos fenômenos, como a superfície de rios, a população das cidades de um país, o diâmetro de planetas. "A lei, entretanto, não é universal. Ela não descreve corretamente, por exemplo, o primeiro dígito dos sorteios da Mega-Sena, ou o da população das cidades de um país que tenham entre 300 e 900 habitantes."

Segunda a lei de Newcomb-Benford a frequência dos dígitos significativos decai em uma escala logarítmica. Assim, o primeiro dígito significativo mais frequente aparece aproximadamente em 30,1% das vezes, o segundo em 17,6% e o último em 4,6%.

A lei de Newcomb-Benford (NB) tem sido usada para detectar fraudes fiscais, contábeis, eleitorais e científicas. Landim diz que "é preciso, no entanto, um certo cuidado ao analisar os resultados eleitorais sob esta ótica". "Circulam na internet estudos sem nenhum fundamento científico sobre fraudes em eleições brasileiras passadas baseados na lei de NB. Por outro lado, não há, a meu conhecimento, nenhuma evidência de que o primeiro dígito significativo das bases de dados do TSE seja distribuída segundo a lei de NB. Ao contrário, um trabalho de Perrichi e Torres, publicado em 2011 na revista Statistical Sciences, observa que os dígitos significativos dos resultados de uma eleição não têm a distribuição de NB quando os relatórios da votação são apresentado por seção eleitoral. Finalmente, mesmo que um estudo histórico da base de dados do TSE apontasse que o primeiro dígito significativo tem uma distribuição de NB, um desvio a esta lei não provaria que houve fraude, mas indicaria a necessidade de estudos mais aprofundados."

Atualização: O texto da checagem foi alterado no dia 9/10, às 15h, para incluir outras informações

Ex-deputado recebeu asilo por denunciar fraude?

Em outro vídeo, com 78 mil visualizações, um youtuber identificado como Daniel Lopez diz que o ex-deputado delegado Protógenes Queiroz descobriu que as urnas foram fraudadas e conseguiu a confissão de um técnico que trabalhava neste processo das urnas eletrônicas. As declarações foram dadas por Protógenes numa entrevista à jornalista Mariana Godoy da Rede TV no ano passado para justificar o fato de não ter sido reeleito em 2014.

O autor do vídeo insinua que Protógenes está na Suíça porque recebe ameaças por ter feito estas denúncias. O ex-deputado, na verdade, recebeu asilo do governo Suíço em 2016 , após ter a prisão decretada para cumprir a condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2014 na Operação Satiagraha.

Diretor da OEA assume fraudes nas urnas?

Capas falsas mostram diretor do Departamento para a Cooperação e Observação Eleitoral da OEA, Gerardo de Icaza - Reprodução/Redes Sociais

Imagens que circulam nas redes sociais mostram três supostas capas das revistas "Época","Veja" e "Exame" com declarações atribuídas ao diretor do Departamento para a Cooperação e Observação Eleitoral da OEA, Gerardo de Icaza, em que ele assume fraudes nas urnas eletrônicas nas eleições deste ano. O Fato ou Fake já mostrou que as capas são #FAKE .

As três capas tratam sobre supostas declarações de Icaza em que ele admite possíveis fraudes nas eleições a favor do Partido dos Trabalhadores (PT). Na versão falsa de capa da revista "Época", a manchete diz: "E agora PT? Gerardo de Icaza abre a boca e assume fraudes nas urnas em favor do PT". De acordo com as imagens, a falsa capa teria sido publicada na edição 937, no dia 25 de setembro deste ano, em uma terça-feira. A semanal, no entanto, é publicada às sextas-feiras com a edição de O GLOBO , e a edição mencionada é do dia 30 de março de 2016. Além disso, a capa fake usa o projeto gráfico antigo da publicação, alterado em março deste ano.

Já a versão fake de capa produzida para a revista "Veja", publicação da "Editora Abril", traz a mensagem: "Bomba! Gerardo de Icaza, diretor da OEA, admitiu negociação para fraudar urna eletrônica e colaborar com o PT". Há ainda uma chamada com o texto: "Fernando Haddad diz ter sido enganado e convoca reunião urgente com líderes do partido". Segundo a imagem que circula nas redes, a edição 2.600 da revista teria sido publicada também numa terça-feira. Assim como "Época", "Veja" não é publicada às terças-feiras. A edição 2.600 da semanal da Editora Abril foi distribuída no dia 21 de setembro com a manchete: " Quem vai com ele. Qual candidato tem mais chance de disputar o segundo turno com Bolsonaro – e por quê". A falsidade das capas também foi confirmada pela assessoria da Editora Abril.

PF apreendeu urnas com votos para Haddad?

Mensagem de post que diz que Haddad jogou a toalha e eleições para a Presidência acabaram é falsa - Reprodução

Uma mensagem falsa dizendo que a Polícia Federal apreendeu 152 urnas eletrônicas dentro de uma van, sendo que 121 delas estavam preenchidas com votos para o candidato à Presidência pelo PT , circulou em tom alarmista pelas redes sociais, principalmente o WhatsApp. A afirmação é #FAKE, como mostrou o Fato ou Fake neste sexta-feira .

A Polícia Federal e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informaram que nenhuma apreensão do tipo foi feita e que a informação não procede. O TSE explica que as urnas eletrônicas têm lacres físicos que impedem qualquer tentativa de manipulação até chegarem ao local de votação e estão programadas para receber votos apenas a partir das 8h do dia da eleição.

"Antes de a votação começar, a urna emite o relatório 'zerésima', que é impresso após a verificação de que não existem votos gravados na urna, comprovando que a urna está sem votos", acrescenta ainda o órgão em nota. A Polícia Federal informou, também em nota, que "não há registro dessa ocorrência".

Documento do Exército exige perícia?

É fake mensagem sobre documento atribuído ao Exército sobre necessidade de perícia nas urnas antes e depois das eleições - Reprodução

Circula também um texto afirmando que o Comando das Forças Armadas enviou à presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber, um documento oficial exigindo perícia nas urnas eletrônicas antes e depois das eleições deste ano. O texto diz que militares de última patente do Exército, Marinha e Aeronáutica desconfiam que o crescimento do presidenciável Fernando Haddad (PT) nas pesquisas eleitorais seja a preparação do terreno para uma megafraude eleitoral. A mensagem já foi checada pelo Fato ou Fake .

O texto com o título "Exclusivo: Alto Comando do Exército Brasileiro encurrala TSE e exige perícia nas urnas antes e depois das eleições" foi publicado no dia 25 de setembro pelo advogado Edesio do Carmo Adorno, de 56 anos, que administra a plataforma. O link e o texto da publicação estão sendo amplamente compartilhados em páginas nas redes sociais e grupos de mensagens.

A informação de que as Forças Armadas enviaram um documento sobre a necessidade de perícia nas urnas é atribuída a uma fonte não identificada. Ainda segundo o site, a ministra Rosa Weber "engoliu a seco a exigência, considerada intromissão indevida no Judiciário".

Em nota, o Exército diz que não solicitou ao TSE nem recebeu qualquer determinação para participar de perícia, avaliação ou auditoria técnica do funcionamento e segurança dos equipamentos eletrônicos de apuração.