Neste domingo (3), quando as discussões na COP28 em Dubai devem se debruçar sobre os conflitos armados do mundo, ativistas se preparam para defender o redirecionamento de 5% da verba mundial destinada a armas, realocando o dinheiro em iniciativas de mitigação da mudança climática, como adaptação das cidades e justiça social para os mais vulneráveis.
O pleito faz eco às afirmações do presidente Lula na cúpula durante a sexta-feira (1), quando afirmou que “toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças e mulheres famintas”.
A organização Transnational Institute calcula que, ao desviar apenas 5% dos orçamentos militares globais, o mundo poderia angariar US$ 110,4 bilhões (R$ 543,5 bilhões) para o financiamento climático, o suficiente para cumprir a meta anual de US$ 100 bilhões (R$ 492 bilhões) para países mais afetados pelos eventos extremos do clima causados pelos impactos da atividade econômica humana sobre o meio ambiente e a atmosfera.
Entidades como a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e a ONG britânica Oxfam têm registros diferentes sobre o andamento do financiamento climático no mundo. Enquanto a organização, ligada aos países mais ricos, revisa os números, afirmando que em 2022 possivelmente a meta foi atingida, a ONG afirma que devido à contabilidade “desonesta e enganosa” das nações ricas, as estimativas do financiamento climático em 2020 chegaram a ser exageradas em 225%, sendo a verba efetivamente repassada um terço do que vem sendo anunciado.
Enquanto isso, os gastos militares cresceram mais de um quarto na última década, ultrapassando US$ 2,2 trilhões em 2022, aponta o jornal britânico. Estima-se que as emissões de carbono das forças militares cheguem a 5,5% do total mundial, superando o CO2 equivalente emitido pelo Japão, quinto país em emissões, segundo monitoramento da plataforma Climate Watch.
Mesmo que se verifique que as nações ricas cumpriram genuinamente o compromisso dos US$ 100 bilhões anuais, os países ainda deveriam alocar 5% dos seus orçamentos militares no clima, defende Nick Buxton, pesquisador do Transnational Institute. A cifra estaria ainda muito abaixo das verdadeiras necessidades dos países pobres frente à crise climática, que podem chegar a US$ 1 trilhão ao ano (quase R$ 5 trilhões).
Na oportunidade em que a COP vai discutir pela primeira vez conflitos armados que têm entre suas origens as distorções econômicas e sociais causadas pelos eventos climáticos extremos, a ideia de que a segurança das nações passa pela questão climática deve ser cristalizada, esperam os ativistas.
Direcionar verbas militares ao financiamento climático tornaria o mundo mais seguro, afirma Perry O’Brien, organizador de justiça climática no grupo Common Defense, liderado por veteranos militares dos Estados Unidos. “Sabemos que a verdadeira segurança nacional significa proteger as pessoas e as comunidades do perigo.”