Uma coisa que não entendo no Brasil é a mania que editores em geral tem de trabalhar para o não-leitor. Alguma tabacaria trabalha para o não-fumante?
Explico: trabalhei em jornal, por exemplo, e a preocupação ali era com quem não tinha tempo para ler. Então, tudo devia ser feito levando em conta essa criatura importantíssima que é o sujeito sem tempo pra ler. “Não leio porque não tenho tempo para ler.” Sei.
Daí vejo uma profissional do mercado editorial (diga-se: respeitada), dizendo que livros devem ser enxutíssimos, fininhos, mandar o recado e sair de cena; tudo num zás, porque a nova geração não tem muita paciência, sabe, ela é a geração TikTok. Ou seja, devemos nos adaptar a ela e escrever com umas palavrinhas curtinhas e fáceis, parágrafos de três linhas no máximo, tudo para evitar que elas dêem um scroll na página e vão embora. Não, por favor, não queremos isso.
Vá lá, entendo a intenção. Mas lamento, vou na contramão da freguesia: não vou fazer nada pensando em TikTok, que essa porcaria logo passa. Já o escrito, fica.
Mais do que fica, o escrito educa. E do melhor jeito: educa quem quer ser educado, quem vai ao texto e lê porque assim quis.
Nos últimos anos, os jornais se preocuparam apenas com quem não tinha tempo; hoje, estão a ponto de fechar. Se investissem em quem gosta de ler e por isso arruma tempo, e se investissem em qualidade de texto e pensamento, eu os assinaria hoje ainda, pra já. Mas eles não querem saber do leitor, só do não-leitor.
Mas a gente não precisa ser assim. Aqui em nosso quintal, pensemos e escrevamos para quem gosta de ler, e não para quem não gosta. Vamos valorizar o leitor de verdade e dar o que ele espera de escritores competentes: bons textos, com a quantidade necessária de palavras. Nem pouco, nem muito.