Capítulo IV: ajuste agora as cores e o som do seu equipamento
os ruídos que nos atrapalham na criação
miolo
ajuste agora as cores e o som do seu equipamento
se você pegou a referência dessa chamada, muito provavelmente já assistiu VHS na sua vida. e, além disso indicar sua faixa etária (e a minha), traz lembranças bem típicas do que significava assistir à uma fita VHS e o que é assistir à um filme nos dias de hoje.
é um ciclo que pode resumir a evolução tecnológica do mundo:
1895: primeira exibição de cinema do mundo
1926: a primeira televisão
1971: lançado o primeiro VHS
1996: chega o digital video disc, o DVD
1997: a Netflix, uma das pioneiras do streaming em vídeo, chega ao mundo
2000: Blu-Ray
como dizem, o resto é história.
parece que foi num piscar de olhos que saímos dos cinemas até chegar ao modelo de múltiplos streamings que temos hoje (alguém lembrava que a Netflix surgiu em 1997?). é claro que os eventos foram tomando forma ao longo das décadas e se adaptando e readaptando conforme a tecnologia avançava. e, com ela, a nossa forma de consumo também era moldada.
e é exatamente para essa parte que quero chamar a atenção: o modo como o nosso consumo se transformou não apenas em termos de forma de consumir as mídias de vídeo, mas também como consumimos o tempo.
apenas a ideia de ir ao cinema já denota uma certa noção de tempo. o primeiro ponto é que você precisa sair de casa (tirar o pijama), se deslocar até o local, sentar-se durante o tempo de exibição e assistir.
o VHS já comeu parte dessa história, porque você podia fazer sua sessão de cinema em casa. mas a fita ainda precisava ser rebobinada antes de poder ver novamente, o que fazia com que ela perdesse a qualidade com o tempo (meu VHS de Cinderela sofreu bastante com tanto vai e volta).
o DVD veio para resolver dois pequenos problemas: a qualidade e o tempo. melhor qualidade de imagem e som e você não precisa mais rebobinar.
em sequência veio o blu-ray, que oferecia mais qualidade, mas não pegou muito. também chegou numa época em que os DVD's já eram bem mais acessíveis (e tem toda a questão da pirataria nessa história).
colocando a última pá de terra na cultura das videolocadoras, os streamings mostraram com o tempo que vieram para ficar e revolucionaram não apenas em termos de qualidade e tempo, mas também em mobilidade e preço.
em resumo, o que aconteceu foi que nós ficamos mais acostumados a consumir não apenas de forma mais ágil, mas também quando e onde quisermos.
todo esse movimento trouxe impactos que são sentidos em todos os cantos. nós queremos celeridade nos atendimentos, nas entregas, nas conversas, nos sistemas, nos conteúdos.
e aqui cheguei no cerne da nossa questão: queremos consumir rápido e consumimos rápido, mas reclamamos toda vez que nos lembramos (ou somos lembrados) da volatilidade do que produzimos.
acho que o fato é que a gente consegue segmentar nossos pensamentos e sentimentos de um modo muito efetivo:
> o texto está muito longo? sigo em frente, corro o olho até o final, valeu pela informação consumida a toque de caixa.
> meu texto está longo? mas por que as pessoas não leem? fiz com tanto amor e carinho, o conteúdo está tão legal. 😥
às vezes, até sem querer, unimos duas mentalidades quase opostas em um só corpo.
toda a lógica do consumo se transformou e a gente ainda insiste em certas teclas que não se ajustam mais.
é claro que ainda existe gente que lê, que ouve, que para e escuta. afinal, você está aqui, usando seu tempo precioso para ler esse texto (e obrigada por isso).
mas o problema costuma existir mesmo é quando a gente não consegue chegar até essas pessoas, ou então quando as métricas de validação (especialmente a interna) não nos satisfazem.
seja por uma ou outra coisa, isso significa que é hora de ajustar as cores e o som do seu equipamento.
entrelinha
ajustando as cores do seu equipamento
cheguei em dois perrengues ali em cima ao falar das teclas que, por vezes, a gente insiste em continuar apertando, mesmo quando o contato do controle remoto já não funciona mais.
em outras palavras, quando a gente abraça algo que gosta ou que está habituado de tal forma que isso nos atrapalha num objetivo em comum de quem cria conteúdo literário: alcançar e se conectar com pessoas.
por favor, não entenda aqui alcançar alguns zilhões de pessoas. falo em alcançar uma aqui e outra ali, que é como a gente começa mesmo. e também como a gente persiste.
se tem uma dose ou outra de realidade que tive que engolir e aceitar nos últimos tempos é que a forma de consumo, especialmente no Instagram, não é mais a mesma.
por mais que ainda existam perfis que tenham o carro-chefe guiado pela fotografia estática e os seus carrosséis mágicos, o consumo em vídeos é cada vez mais relevante.
mas esse ponto passa por questões pessoais minhas de preferência de conteúdo que eu consumo até a forma de conteúdo que eu gosto de produzir. também passa pelo que é, na minha definição pessoalíssima, conteúdo:
conteúdo
dicionário Retipatia
sinônimo de conteúdo de qualidade, de possuir algo robusto dentro de si, possuir capacidade de ou para informar, entreter e/ou educar.
é a muiteza das coisas.
é entregar, de fato, algo relevante. é ter conteúdo, e não um conteúdo vazio, se você me entende.
note que minha definição, por si só, não considera o trabalho envolvido na criação e produção. e tenho certeza de que alguns tipos de conteúdo precisariam se espremer para caber ali dentro.
chegar a esse entendimento comigo mesma foi uma tarefa meio difícil, porque primeiro eu jurava que era só preciosismo meu não querer criar Reels, por exemplo. depois comecei a entender o cerne da questão: além de tudo que eu citei, as mudanças necessárias para o meu conteúdo significavam também uma revisão do meu conceito do que é conteúdo.
e saber que, aquela fórmula toda minha e especial que eu vinha cultivando há anos, agora já não era mais a ideal e precisava ser reciclada.
a parte boa é que eu posso adiantar para você é que hoje existem inúmeros lugares e fontes que podem te ajudar a analisar se o seu projeto está no lugar certo (afinal, alguns formatos de fato funcionam melhor em determinadas plataformas), tanto quanto de saber que rotas tomar para que você consiga unir o que você quer fazer, com o que o público deseja consumir (ou chegar ao público que tenha as mesmas preferências que você).
o exercício aqui hoje é o de desapegar do que não funciona para você e, especialmente, do que não funciona na sua criação de conteúdo. não é fácil, mas necessário.
e como a gente está aqui para falar e também para pensar na parte prática, vou listar alguns tópicos que podem guiar você nessa análise do seu perfil literário no Instagram:
> como andam as métricas?
essa é a hora de ser sincera e gentil com você. essas métricas, verdinhas ou com números negativos, não resumem seu trabalho, ok!
caso você não tenha um perfil no modo 'criador de conteúdo', é um ajuste que eu recomendo que faça. além de ter acesso a essas métricas detalhadas do seu perfil, tem ferramentas que podem auxiliar seu trabalho.
você pode começar analisando o desempenho dos seus posts no último mês e ver como cada um reagiu em termos de alcance de público, comentários, salvamentos, etc.
isso vai te ajudar a entender como cada post foi capaz de chamar a atenção do seu público.
> qual é a sua frequência?
como você costuma postar? qual sua rotina de criar para sustentar essa frequência? ela é viável hoje na sua rotina/vida?
> quais formatos você costuma trabalhar?
é possível diversificar mais, é possível criar nos formatos que estão em alta, respeitando seu modo de criação de conteúdo?
> quais formatos de conteúdo você costuma consumir?
já parou para imaginar se o que você faz e o que você consome estão em sintonia? não precisa ser igual, é claro. falo em sintonia porque identificar nosso hábito de consumo pode nos ajudar a pensar em formas de tornar o nosso trabalho tão legal e atraente quanto aquilo que gostamos de acompanhar.
> como está o seu perfil?
de modo geral, tem algo que te incomoda nele? se sim, quais as formas que você pode usar para mudar, alterar ou deixá-lo mais a sua cara?
> o que você acha do seu conteúdo, em termos de qualidade?
pode ser sincera, eu sei que a gente não é 100% todos os dias como gostaríamos. mas a sua satisfação com o todo que você produz é algo alcançável, garanto.
abre parêntesis lembra que lá no Capítulo I eu falei sobre o que é ser permanente (se chegou agora, sempre tem como ler todos os capítulos aqui)?
passei quase um mês sem postar no feed do Instagram (shame on me ahaha) e ando bem pouco frequente nos stories, mas a minha conta continuou a atrair novos seguidores, gerar engajamento nas postagens e entregar alguns vídeos do Reels. provavelmente teria tido um desempenho ainda melhor se eu tivesse feito postagens nesse período, mas a correria e o foco em outros projetos acabaram me tirando um pouco daquele espaço (vou aproveitar e fazer meu jabá, reabri minha loja & clube de velas, chamada Quentim no Coração, vem conhecer no site ou no Insta).
eu não fiz mágica, nem rezei um pouco mais para os deuses dos algoritmos para que a conta não estagnasse e nem entrasse na temida curva de decaída. (e nem recomendo esse tipo de abandono, caso você possa continuar alimentando a rede)
a questão é que eu passei a construir meus conteúdos pensando sempre no tipo de entrega que eu gostaria de ver, além do que eu gosto de produzir.
mesmo que tudo seja volátil e efêmero, eu produzo para ser permanente em quem consome. funciona para todo mundo que vê, lê, assiste? claro que - infelizmente - não! mas funciona para uma parcela que me acompanha e isso tem se mostrado mais eficaz do que procurar formas milagrosas de criar conteúdo. eu falo muitas abobrinhas por aqui, mas são todas com base no que eu vivencio na criação de conteúdo. fecha parêntesis
depois que fizer suas anotações (ajuda ter tudo escrito pra visualizar, seja em uma plataforma digital ou no bom e velho caderninho), sugiro que você trace paralelos entre os dados.
por exemplo: na época que você manteve a frequência de postagens, como foram os resultados? e na época que postou menos, teve alguma diferença? quais posts renderam mais alcance, você os fez em qual época? qual foi o formato deles? qual formato tem gerado mais comentários? o que você fez de diferente neles e nos que renderem menos respostas? qual era o objetivo desse post?
analisando esses detalhes você consegue passar para uma etapa que pode te ajudar a descomplicar a criação, que é o planejamento (mas isso é assunto para outra quarta-feira). ele é um bom ponto de partida para você conseguir definir como alcançar seus objetivos: sejam eles metas, sonhos, parcerias, números, tipos de conteúdo, publis, etc., etc., etc.
contracapa
ajustando o som do seu equipamento (ou os ruídos que nos atrapalham na criação)
e então, o que acontece quando as métricas de validação (especialmente interna) não nos satisfazem?
esse é o nosso segundo subtópico de hoje e é sobre os ruídos que atrapalham a nossa criação de conteúdo. muitas vezes sem que a gente perceba imediatamente.
quando falo em ruídos que nos atrapalham a criar, teremos as coisas mais tradicionais como falta de organização que impacta no nosso tempo, na falta de inspiração ou criatividade, e tem a procrastinação, o desânimo, o tô de saco cheio de tudo isso, o pela deusa, onde é que eu vou chegar com isso?
algumas dessas coisas, se a gente organizar direitinho, consegue tirar os planos do papel e levar para as redes. com ou sem desânimo. sem inspiração mesmo.
mas tem um tipo de ruído que é mais difícil de perceber, mas que, depois que a gente detecta, dá pra arrancar pela raiz. ou silenciar.
sabe quando a gente se sente incomodada porque alguém parece ter sempre mais sucesso que a gente? ou quando algum tipo de conteúdo que as pessoas compartilham funciona como um conteúdo sensível para você? do tipo que é capaz de despertar gatilhos e sentimentos não saudáveis. sabe quando a gente entra em algum perfil não para acompanhar, ler, saborear, mas para se comparar?
o ser humano tem uma mania quase que inata (ao menos culturalmente falando), de se comparar com o outro. é uma mania horrorosa e prejudicial para nosso bem-estar mental. e o fato é que as redes sociais, com seu filtro natural da realidade, fazem com que a gente tenha sempre fonte em abundância de comparação.
são ruídos que nem sempre detectamos imediatamente, mas que são capazes de gerar um grande dano. porque, ao invés da gente preocupar em começar a assistir ao nosso filme e comer a nossa pipoca, vamos querer saber porquê o vizinho já está rebobinando sua VHS. e lavando o balde de pipoca.
a comparação exclui nossa individualidade. sabemos que ela será feita em vários outros momentos da nossa vida, ainda por cima por terceiros: numa entrevista de emprego, por exemplo, seu currículo será comparado ao dos outros candidatos. por que então fazer isso em questões em que não existe essa necessidade?
quando levamos essa ideia para as redes sociais, um ato simples por ajudar muito: às vezes você não quer deixar de seguir a pessoa tal, mas pode silenciar os stories dela, o feed ou ambos por um tempo. sabe aquele perfil de notícias que só te deixa mais desesperada? silencia ele um pouco também (existe uma linha tênue entre se manter informada e se sobrecarregar com todas as mazelas da humanidade).
aproveita o feriado, o fim de semana, ou um momento em que você está rolando o feed sem propósito algum: silencie os ruídos que impactam seu lado criativo, inspirado, criador e leitor.
sebo
dado meu momento nostalgia com o VHS estar bem aflorado nesse momento, somado ao clima de terror pungente no ar do mês de outubro, tenho duas indicações de leitura para fazer:
brasilidade + contos com histórias interligadas + terror para todos os gostos + escrita incrível + finalista do Jabuti + para quem quer experimentar ler terror + para quem já é fã de terror + leia e me agradeça depois = VHS e DVD do César Bravo
"E quem disse que existe uma idade pra gente deixar de ter medo?"
rodapé
obrigada por ler ou correr o olho até aqui. mas eu realmente espero que você tenha lido, só correr o olho pode deixar minhas viagens na maionese ainda mais desconexas.
se quiser me responder qualquer coisa ou uma coisa qualquer, ficarei feliz em te ler também.